Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
...
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro-
Não me acho no que projecto.
...
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
...
Perdi a morte e a vida,
E louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a mas permaneço...
...
Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro (n. 19 Mai 1890 m. 26 Abr 1916)
in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa
de Eugénio de Andrade (3ª. Edição)
Campo das Letras
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
...
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro-
Não me acho no que projecto.
...
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
...
Perdi a morte e a vida,
E louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a mas permaneço...
...
Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro (n. 19 Mai 1890 m. 26 Abr 1916)
in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa
de Eugénio de Andrade (3ª. Edição)
Campo das Letras
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