segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

27/12/2010

Hoje um grande amigo faria 38 anos, e seria um dia de festa!
Não me lembro da data de seu falecimento, nem do dia, nem do mês, tampouco do ano. Talvez seja até uma atitude inconsciente, mas nunca soube ao certo isso.
Ele era um ser humano cheio de vida, com um senso de humor ácido e afiado. Foi a pessoa mais importante do mundo na minha adolescência, sem ele teria sucumbido as tempestades que enfrentei nesse período difícil da minha existência. Atravessei a primeira desilusão amorosa e a separação dos meus pais amparada pela mão firme e dedicada dele.
O início da vida adulta nos separou. Quando chegou a hora de sermos gente grande, cada um seguiu seu caminho. Meus conselhos deixaram de ser válidos e ele estava por demais extasiado pela sua liberdade recém conquistada. Estávamos ávidos demais por viver a qualquer preço. Eu ansiando desesperadamente aquietar meu coração e ele, talvez pelo mesmo motivo, se aventurou destemidamente (como era de seu feitio) pela nova vida que se descortinava.
Cada um de nós dois trilhou caminhos que nos levaram para longe um do outro, buscando a mesma coisa.
Encontramos outras pessoas, fizemos novos melhores amigos, ficamos de mal.
Senti meu orgulho ferido quando deixei de ser referência. Estive preocupada demais com meus sonhos de amor, descuidei da nossa relação.
No desatino que se tornou a vida dele, assim como eu, encontrou somente miçangas, nada de valor verdadeiro. Mas ele buscou mais fundo nas entranhas da terra, e além dos vidros coloridos que por momentos fugazes aquietaram nossos corações, encontrou algo mais. Encontrou a resposta mais dura para a onipotência típica de todos nós, a falibilidade.
Apesar de termos traçado na infância uma trajetória comum, a vida nos afastou, mas a doença novamente nos uniria, algumas décadas depois.
Vi aquele homem enorme, mas de aspecto franzino,voltar a ser criança na necessidade de afeto e aceitação. Aquele que alçou voos distantes, como que a negar as próprias origens, resignar-se diante da impossibilidade de cuidar de si mesmo, manter-se de pé.
Eu o odiei quando soube da doença. Me indignei por que eu o avisei. Tive um pressentimento, corri para avisá-lo, mas não era mais um presságio para ele, era uma forma de constatação de uma possibilidade que eu não admitia, mas precisava acostumar-me com a idéia.
Orgulhoso, passou pela vida de cabeça erguida, odiava ser o alvo da atenção de pessoas que se apiedavam dele. Mesmo sem recursos, ríamos da possibilidade de realizarem eventos para arrecadar fundos, pois segundo ele, não era entidade filantrópica.
Estive com ele em alguns dos momentos difíceis pelos quais atravessou, mas não estive quando atravessava definitivamente para uma outra esfera.
Me recusei a guardar na minha retina a imagem dele entubado, inconsciente, apesar da minha cabeça me desafiar criando a cena, como forma de me penitenciar.
Não atravessei noite a fora em seu velório, como era de minha vontade. Não me despedi dele como deveria. Talvez por negação, talvez para ficar com a sensação de que logo nos veríamos.
Quase nunca penso nele, quase nunca o esqueço.
Sinto saudade de você Jefferson. Sinto saudade do meu Jeffinho, do irmão que meu coração escolheu.
Espero que você esteja bem, espero que ainda se lembre de mim. Espero que o maior medo de minha vida não tenha se concretizado ai onde está: perder você!
Sempre tive medo de ser desinteressante, mais nunca senti tanto medo de como tive de não ser mais interessante pra você.
Eu te amo Jeffinho.
Como nas palavras da canção de Roberto Carlos, que se aplicam como uma luva para nós dois:

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi, dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim

Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar
De tudo outra vez....

Você foi
A mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi
O caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu

Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder

Você foi
Toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer

Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim

Outra vez

Um comentário:

  1. Pessoas importantes não deixam de ser importantes qdo se vão.
    Sempre repito isso, mas não tenho medo de me tornar repetitivo: às vezes nos esquecemos de dizer pras pessoas o qto elas são importantes pra gente. Qdo elas se vão, fica um misto de indignação e tristeza por não termos dito.
    Mas a vida é uma engrenagem perfeita.
    Cada um que fez parte de nossas vidas, fez parte da formação do nosso caráter, da nossa personalidade.
    Onde quer que ele esteja, tenha certeza, sabe disso.
    Sabe o qto foi importante para nós.
    O irmão, o companheiro, o grande amigo.
    E sabe, melhor que a gente, que um dia a gente vai se encontrar. E qdo isso acontecer, vai ser da maneira que sempre foi.
    Pq ele apenas se foi. Só isso.
    Do jeito que o tempo vem passando rápido. Breve, muito breve, estaremos todos juntos.
    Obrigado por existir.

    Bjs.

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