quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Para quem é mãe de meninas.


Menina é feita, primeiro,
de sonhos; basta se olhar
seu olhar de quem caminha
com a pressa de chegar
ao fundo de um oco mágico
pra onde - com seu colete,
um relógio de corrente
e passos muito apressados-
um agitado coelho
de olhos muito vermelhos
a conduz com a certeza
de que estão sempre atrasados.

Menina, como se sabe,
não tem a força de um menino,
mas tem a enorme coragem
de se jogar, por inteiro,
no poço de seu destino.. . .


Menina pode deixar
mãe e pai bem assustados
sem saber notícias dela,
pois cresce assim de repente
e escapa pela janela.

Meninas não gostam muito
é de ser contrariadas
e dão um certo trabalho
para, então se convencer
de que podem estar erradas.
E falam muito sozinhas,
ou melhor: pensam baixinho,
sobre seu jeito de ser:
alcançam bem mais depressa
que o resto da humanidade
o cantinho mais remoto
do seu próprio coração.

É preciso ter cuidado
com o que se diz às meninas,
pois, como já lhes contei,
muitas vezes elas choram
por coisas bem pequeninas.
Meninas não aprenderam
ainda bem a calcular
a quantidade de lágrima
que merece cada dor.

As meninas das estrelas
às vezes acordam tristes
e perguntam a si mesmas
- como num verso longínquo
de um poeta do meu tempo
que enternecia as meninas -
por que suas mãos pequeninas
amanheceram tão frias
discordando sem querer
" das humans alegrias ."

Às vezes, elas acordam
- no dizer de gente antiga-
com o ovo atravessado
e aí não adianta briga.

Basta um pouco de cuidado,
um pouco de atenção
pra deixar que elas voltem
por sua própria decisão
sem palpite algum a dar
ao seu doce bom humor
( como elas sabem voltar ).

Este texto foi retirado do livro Menina das Estrelas, de Ziraldo

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

35 semanas ... Que comece a contagem regressiva.



O espaço está ficando apertado dentro do útero. Motivos para isso não faltam. O pequeno não pára de ganhar peso. Ele acaba de chegar aos 2,5 kg e, por isso, suas pernas e seus braços ficaram mais gordinhos nesta semana. Seu filho também deu uma espichada e, da cabeça aos pés, agora mede 45 centímetros. Como sempre, ele continua chutando, mas tem dado um tempo nos pontapés e em outras estrepolias. Afinal, o útero já não permite movimentos muito expansivos... Depois que ele nascer, aí, sim, vai voltar a dar muitos chutes e cambalhotas.

Sua barriga - que agora merece, com todas as honras, ser chamada de barrigão - subiu mais um pouco. São 35 centímetros de altura e, desse jeito, mal sobra espaço para a bexiga inflar. É tanta pressão que, a cada instante, ela cobra de você uma nova corrida até o banheiro. Mas a jornada da gravidez está quase no fim: faltam só cinco semanas para o bebê nascer. Você deve estar contando os segundos para o seu filho chegar e, com certeza, organizou todo o enxoval dele.

Marina perdeu ganhando


Com uma campanha que misturou ecologia e fé, Marina sai da eleição maior do que entrou

Mariana Sanches


Com 19,5% dos votos válidos, Marina terminou a eleição presidencial em terceiro lugar, mas sai das urnas como uma liderança política nova e promissora. O porcentual de votos válidos de Marina é, entre os terceiros colocados, o maior em todas as eleições presidenciais realizadas desde a redemocratização. Ela superou o desempenho de Heloisa Helena, em 2006, Anthony Garotinho, em 2002, Ciro Gomes, em 1998, Enéas Carneiro, em 1994, e Leonel Brizola, em 1989. Sua votação foi superior inclusive à de Lula em 1989, que passou para o segundo turno contra Fernando Collor com 16% dos votos válidos.

O resultado, “excepcional”, segundo o cientista político André Singer, da Universidade de São Paulo (USP), a credencia a liderar uma nova força política de oposição. “Marina percebeu, antes de todos, a existência de um espaço na política e se colocou nele”, diz Singer. “Esse resultado eleitoral permite que ela inicie um trabalho de longo prazo, de organizar uma base social em torno de seu projeto.”

Marina conseguiu essa façanha depois de um longo calvário no governo Lula. À frente da pasta de Meio Ambiente, ela perdeu disputas e prestígio para a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. As rusgas a levaram a deixar o PT, partido que ajudou a fundar. Cortejada pelo Partido Verde, que enxergou em Marina a possibilidade de superar a condição de nanico, ela resolveu lançar-se à disputa presidencial. Na campanha, defendeu uma agenda que mistura a preservação do meio ambiente com críticas ao “desenvolvimentismo”. É o tipo de discurso político que encontra mais fácil aceitação em países escandinavos, com alto índice de desenvolvimento humano. Mesmo lá, onde as preocupações com o estômago não costumam se sobrepor às demais, políticos “pós-materialistas” sofreram revés depois que o mundo foi sacudido pela crise econômica de 2008.

Em um país com 15% de pobres na população, segundo cálculo da Fundação Getúlio Vargas, Marina ousou defender a interrupção de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em favor do meio ambiente e a instalação de placas solares nos tetos das casas populares. Isso torna seu sucesso eleitoral um caso ainda mais singular – que pode também estar relacionado ao perfil religioso de Marina. “A Marina é uma mistura de ecologismo com fé na Assembleia de Deus. Ela não é bem um personagem pós-moderno europeu. É um fenômeno peculiar”, diz o cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

A CANDIDATA

Marina Silva em frente ao Congresso, em foto tirada em maioMarina superou sérias limitações para fazer campanha. O PV é um partido pequeno, sem democracia interna, muito desigual regionalmente e dirigido há mais de dez anos por José Luiz de França Penna, cujo cargo político mais relevante foi o de vereador em São Paulo. Marina disse que preferia estar só a ser incoerente e, por isso, optou por não fazer coligações nacionais. Isso deu a ela exíguos 83 segundos de propaganda eleitoral gratuita na TV. Marina estava mais próxima às condições de competição do nanico Plínio de Arruda, do PSOL, do que de seus principais adversários. Dilma Rousseff teve o equivalente a 7,5 vezes o tempo de TV de Marina. O tucano José Serra teve cinco vezes mais tempo. Mesmo na internet, a campanha de Marina enfrentou problemas. Nos dias que antecederam a eleição, o site do PV ficou fora do ar porque a quantidade de acessos era superior a sua capacidade.

Marina também não pôde contar com palanques estaduais. O PV lançou 11 candidatos a governador. Mas, exceto por Fernando Gabeira, no Rio de Janeiro, nenhum deles conseguiu mais que 2% nas pesquisas (nas urnas, o desempenho foi um pouco melhor. Fábio Feldmann em São Paulo, por exemplo, obteve pouco mais de 4% dos votos). No Rio de Janeiro, Marina obteve índices superiores aos de Gabeira. Lá, ela teve 31% dos votos. Gabeira, 20%. Logicamente, se alguém era ajudado quando ambos subiam ao palanque, esse alguém era Gabeira.

O resultado de Marina surpreendeu até mesmo os velhos caciques do PV, que achavam que sua campanha serviria basicamente para dar uma turbinada na magra bancada na Câmara (o partido tinha 15 deputados na última legislatura). O futuro político de Marina dependerá agora de sua capacidade de reformar e expandir o PV. O partido, na avaliação de alguns dos integrantes, tem uma imagem boa junto aos eleitores, a despeito de sua estrutura e comando frágeis.

Para conseguir mais espaço na política nacional, Marina precisará também ampliar sua base para outros grupos sociais. Nesta campanha, ela conseguiu, predominantemente, votos na classe média urbana, conectada à internet e jovem. O perfil religioso e a origem pobre de Marina podem facilitar a conquista de outras fatias do eleitorado. Entre agosto e setembro, as intenções de voto em Marina entre os evangélicos cresceram 7 pontos. É um sinal de que Marina tem potencial para expandir seu eleitorado. Se ela conseguir pintar de verde grotões e favelas, Marina, em outras eleições, poderá ser mais que uma terceira via.