quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Para quem é mãe de meninas.


Menina é feita, primeiro,
de sonhos; basta se olhar
seu olhar de quem caminha
com a pressa de chegar
ao fundo de um oco mágico
pra onde - com seu colete,
um relógio de corrente
e passos muito apressados-
um agitado coelho
de olhos muito vermelhos
a conduz com a certeza
de que estão sempre atrasados.

Menina, como se sabe,
não tem a força de um menino,
mas tem a enorme coragem
de se jogar, por inteiro,
no poço de seu destino.. . .


Menina pode deixar
mãe e pai bem assustados
sem saber notícias dela,
pois cresce assim de repente
e escapa pela janela.

Meninas não gostam muito
é de ser contrariadas
e dão um certo trabalho
para, então se convencer
de que podem estar erradas.
E falam muito sozinhas,
ou melhor: pensam baixinho,
sobre seu jeito de ser:
alcançam bem mais depressa
que o resto da humanidade
o cantinho mais remoto
do seu próprio coração.

É preciso ter cuidado
com o que se diz às meninas,
pois, como já lhes contei,
muitas vezes elas choram
por coisas bem pequeninas.
Meninas não aprenderam
ainda bem a calcular
a quantidade de lágrima
que merece cada dor.

As meninas das estrelas
às vezes acordam tristes
e perguntam a si mesmas
- como num verso longínquo
de um poeta do meu tempo
que enternecia as meninas -
por que suas mãos pequeninas
amanheceram tão frias
discordando sem querer
" das humans alegrias ."

Às vezes, elas acordam
- no dizer de gente antiga-
com o ovo atravessado
e aí não adianta briga.

Basta um pouco de cuidado,
um pouco de atenção
pra deixar que elas voltem
por sua própria decisão
sem palpite algum a dar
ao seu doce bom humor
( como elas sabem voltar ).

Este texto foi retirado do livro Menina das Estrelas, de Ziraldo

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