segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

POSTERGAR...

"Alguns indivíduos recusam o empréstimo da vida para evitar a dívida da morte" Otto Rank


Esse final de ano está sendo tenebroso pra todos nós. Uma catástrofe se abateu sobre nossa cidade. Uma mãe e uma de suas filhas gêmeas faleceram em um acidente de carro, que ainda feriu outras duas crianças e a irmãzinha da gêmea que morreu.
Situações assim me fazem refletir sobre as escolhas que fiz, as que não fiz, as que estou postergando.
Um dia antes tinha visto essa mãe entrando no supermercado, parecia feliz.
Não durmo mais, acordo no meio da madrugada e não tiro essas pessoas da minha cabeça. Esse marido e pai? Como terá passado natal? Como será seu ano novo? Como será sua vida à partir de agora? E essa mãe? Como teria se sentido?
Parecia uma família feliz. Inatingível. Uma mulher alegre, contente, sorridente, sem nenhum preconceito em relação as pessoas, uma pessoa humana e acessível. Como pode morrer assim, às vésperas do natal? Que fatalidade gente!
Esse acidente tirou o sabor de comprar um carro zero, destruiu o meu natal e deixou um gosto amargo na boca. Pq com eles? Pq nessa época do ano? Não parece justo.
A dor que, com certeza, dilacera o coração desse pai, não sai da minha cabeça. Eu o vi, olhando pro nada, na porta de sua casa. Senti o ímpeto de abraçá-lo, ampará-lo na sua dor. Mas fui contida pela distância que ele impôs entre si mesmo e o mundo. Conheço essa distância, eu tbém comungo dela. Me senti um lixo impotente diante da sua dor. Queria ter feito muito, ou ao menos alguma coisa. Só lamentei...
A frase do início está em um livro do Irvin que estou lendo: Mamãe e o sentido da vida. Não preciso dizer que é fantástico. Me fez refletir sobre a minha existência. Sempre deixando pra amanhã a minha felicidade, a possibilidade de ser diferente, de viver diferente. Como se no futuro encontrasse as moedas de ouro. Meu verbo é POSTERGAR. Talvez por isso esse acidente tenha me mobilizado tanto. Poderia ter sido eu! E todos os meus sonhos que sempre deixei pra amanhã? Como seria se tivesse sido arrancado de mim a possibilidade de um novo recomeço? A vida é efêmera demais. E quem decide qdo chegar e partir tem planos alheios a nossa vontade. Somos falíveis, e isso é assustador.
O que fazer com esse meu vício de deixar a VIDA pra depois? Como me curar dessa doença?
O tempo está passando, alguns sonhos que tinha já não cabem mais na vida que levo, e eu não os realizei, deixei-os morrer.
Nesse mesmo livro do meu ídolo Irvin, ele cita um personagem de Dickens, a sra. Havisham de Grandes esperanças, que passou anos vivendo nas teias de aranha do luto, sem nunca despir o vestido de noiva nem a mesa preparada para o banquete de núpcias.
O meu luto é da VIDA que não vivi, e o banquete sãos os sonhos que deixei morrer.
E faltam 3 dias para o Ano Novo.
O que estará reservado pra mim?

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