terça-feira, 27 de março de 2012

TODAY IS THE DAY!

Nada acontece por acaso!
Hoje é um dia que, por mais que grande parte das pessoas que conheço não entendam, pra mim não é um dia feliz.
Cansei de me justificar, cansei de tentar fazê-los entender que não espero festinhas surpresas, manifestações explícitas de carinho, presentes, etc, etc, etc. Hoje pra mim, é um dia de reflexão, portanto... triste.
Vivi quarenta anos, e plagiando o quadro do Fantástico, vi muitas coisas da vida. Vi uma infância gloriosa, em um quintal que cabia o universo inteiro! Onde a ausência dos meus pais fez acontecer muito mais reinações que poderia imaginar Monteiro Lobato. Debaixo de uma mangueira, onde a festa se dava quando recebíamos o maravilhoso presente de uma carriola cheia de areia, fazíamos acontecer tudo oque uma criança pode imaginar. Vivi em várias cidades, habitei vários planetas, fomos aliens, fomos mocinhos e bandidos, tentamos assar meu irmão mais novo, fomos fomos crianças irremediavelmente felizes. Cúmplices dessa felicidade tivemos a parceria de avó Dita, pessoa fantástica, que se hoje o tempo me rouba  a maior parte das memórias, não consegue apagar a lembrança de um anjo de luz que sempre nos envolveu de felicidade, atendendo aos nossos mínimos e inúmeros caprichos.
Minha infância, como diria Freud, me salvou dos anos que estavam por vir.
Chegou a tão falada adolescência, e se eu estava brincando de gato e rato comigo mesmo, nesse momento me encontrei. Tudo o que ainda não estava definido... se concluiu. Tudo oque poderia ser diferente, não foi.
Se nessa época, lá pelos idos de 1985, descobri o significado da palavra AMOR. Nesse período descobri que não era capaz de controlar meus sentimentos, e amei mais do que seria capaz de supor qualquer pessoa. Descobri que é possível amar alguém muito mais do que a si mesmo e que, as vezes, se leva anos, muitos anos, para se descobrir que para algumas coisas não se tem remédio. Ou é, ou não é pra ser. Experimentei a dor de me separar de algo que não parecia existir sem mim. Esperei mais sete anos e vivi a mesma perda, onde só mais lá na frente, ao reencontrar esse amor, entendi que ele veio fechar um ciclo que a melancolia que governa a minha vida, insistia em não encerrar.
Ironicamente, ao descobrir o amor também encontrei todos os tormentos possíveis, me deparei com o que existe de pior no ser humano, aprendi a ofender, a magoar, a ferir, a matar as pessoas emparedando elas vivas dentro de mim. Aprendi que teoricamente, quem veio ao mundo para me amar, me proteger, pode ser quem vai me ferir mais fundo, quem vai despertar um mim o bicho enjaulado e erguer todas as muralhas possíveis de proteção.
Minha adolescência pode ser definida como uma sucessão de perdas. Algumas o tempo me fez compreender, outras o nascimento de minhas filhas me vieram para me libertar de possíveis culpas que pudessem existir. Um pai de verdade não abandona um filho nunca!
Amadurecer não foi fácil! Não passei impunemente por tantos percalços. As construções equivocadas que fiz me levaram a tomar atitudes que me trouxeram sequelas irreversíveis.
Já na vida adulta, me meti a ser novamente adolescente e me deixei levar pela emoção. Troquei o certo pelo duvidoso, joguei todos os meus dados, apostei todas as minhas fichas, corri todos os riscos. Novamente me vi em um turbilhão de acontecimentos alheios a minha vontade. Sofri (como só um bom melancólico consegue sofrer!). Coloquei em xeque todas as minhas fragilidades, meus medos, meus temores inconfessáveis. Eu... sozinha, encontrei todos os meus monstros e os olhei nos olhos. 
Passada a tempestade me deparei com um adolescente cheio dos saberes do mundo e ingênuo em relação as dificuldades da vida, principalmente as da vida a dois. Contrariamos todas as expectativas, mesmo as mais confiantes! A década que nos separa, nos uniu fortemente e nos fez resilientes aos preconceitos dos outros. Afinal, os opostos se atraem, mas as semelhanças se completam.
Posso dizer que sobrevivi. Dessa tormenta furiosa que arruinou todas as minhas muralhas e me lançou na vida sem rede de proteção para viver um novo amor, nasceram minhas filhas. Duas mulheres pelas quais sou inteiramente responsável. Para as quais me cabe a tarefa de construir, tijolo à tijolo, o alicerce da auto confiança, da possibilidade de serem felizes. Quem disse que não somos capazes de ensinar algo que não conhecemos? Para nossos filhos somos sim!
Voltando ao início de tudo isso: Nada acontece por acaso.
Em um dia em que não vou ao trabalho, não saio de casa, não recebo ninguém, me deparo com um texto de Lya Luft com o título Erratas da Vida: fala sério!?
Definindo em poucas palavras (até pq já disse muitas), ela diz o seguinte: "- Não dá para fazer correções dos erros que cometemos na nossa vida. É preciso contar com o perdão dos outros e a anistia da gente mesma."
Do que vi da vida trouxe comigo um tantinho bom de melancolia, um senso de justiça e de responsabilidade capazes de me fazer adoecer e uma hipocondria que me faz pensar que perdi o juízo.
Espero que as pessoas que magoei sejam capazes de me perdoar, de coração, especialmente uma. Especialmente para essas gostaria de dizer que ninguém foi tão cruel comigo quanto minha própria consciência.
Das mágoas que me causaram, não carrego ressentimentos. A vida me deu um espírito livre. Costumo dizer que meu HD não tem espaço para coisas desnecessárias.
E hoje, nesse dia que deveria ser festivo, queria só dois presentes: A oportunidade de criar minhas filhas. Ver elas crescerem, sofrerem as dores dos primeiros amores, casarem-se, terem filhos e serem mulheres felizes.
E pra mim, só pra mim mesmo, tenho um desejo inconfessável, que só Deus sabe. Apesar não entender que mereço, espero profundamente que esse Pai Maior que tanto procuro encontrar, que tantos dizem tão próximo de mim, e eu me sinto tão pouco merecedora de sua atenção. Ele sabe exatamente o que aflige meu coração nesse momento. É oque eu desejo ardentemente, com uma fé confusa mas real, nesse dia tão especial. Afinal,   não é todo dia que se faz 40 anos, não é mesmo?
Quanto a me anistiar dos próprios erros...isso daria uma longa e polêmica discussão.
Hoje gostaria de agradecer a todos os meus amigos. Não vou me atrever a nomeá-los por que a memória já não é boa rsrsrsrs (eles mesmo sabem que são poucos). Aos que estão próximos, aos que estão longe e em especial aos que já se foram, Jefferson (que me salvou de uma adolescência atormentada com seu sarcasmo, ironia, bom humor e felicidade explícita) e a Tia Lúcia (que da sua mais absoluta carência e solidão me acolheu e me deu ensinamentos que me transformaram para sempre), por terem existido na minha vida. Por serem responsáveis por eu ser hoje a pessoa que sou.
Agradecer a minha mãe, por tudo que fez por mim, por tudo que me ensinou e por tudo que aprendi alheia a vontade dela. Desculpas por não ter sido capaz de alcançar suas expectativas (para mim a maioria delas era inatingível rs). A vida traçou caminhos muito diferentes dos quais a senhora gostaria que eu tivesse trilhado.
Ao meu pai gostaria de agradecer pela infância que tive. Por ele ter sido meu pai herói até o dia em que a vida nos separou definitivamente.
Assim como o senhor, apesar de não ser em forma de quadros na parede, ainda preservo sua imagem guardada na fantástica e mágica infância que tive. Se hoje não existe mais espaço para sermos pai e filha, sempre existirá um tapete novo para estrearmos de cavalinho, em uma casa imaginária, guardada em minhas memórias.
Agradecer aos meus irmãos, que fomos tão unidos e hoje estamos tão estranhamente próximos...mas distantes. Eu amos vocês incondicionalmente. Só nós três sabemos por que fazemos escolhas tão absurdas aos olhos dos outros. Em um momento muito ruim de nossas vidas, tivemos que nos unir para nos salvar. Pena que hoje, quando poderíamos estar mais próximos, ainda deixemos terceiros, quartos e quintos nos afastar um do outro. Mas faz parte da vida, não é mesmo?
Gostaria de agradecer ao Alexandre, que colocou por terra todas as minhas convicções. Me ensinou muito mais do que fui capaz de ensiná-lo. Obrigada por oportunizar na minha vida, a construção de um sonho antigo, ter uma família! Apesar dos nossos constantes conflitos, somos felizes e não entendo mais minha vida sem você.
E por último, quero agradecer a existência das minhas filhas, que sem saber me salvaram a vida muitas vezes. Espero em Deus que continuem salvando. A Laila pelo temperamento impetuoso e vontade que sobrepõe a tudo. A Laura, que tem uma doçura no olhar e uma força nas atitudes.
Por enquanto vou ficando por aqui, esperando da vida, o que a vida tem pra me dar.
Obrigada por tudo oque rolou nesses 40 anos de vida!!!

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