segunda-feira, 19 de abril de 2010

As 7 faces do Dr. Lao.


Ando numa fase retrô e deprê rsrsrs.
Já faz um tempão que não vejo nenhum filme novo. Resolvi abrir o baú do meu passado e buscar lá na sessão da tarde um filminho bem mandrake, mas que eu curti bastante. Foi fantástico reviver esse momento. Como eram ingênuos nossos temores e nossos monstros...
Sabe qual é o próximo? O pássaro azul. E se eu conseguir... O segredo de uma promessa (dá-lhe lágrimas!!!!!!).


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Guilherme de Brito

Sempre que eu chego inesperadamente
E te encontro assim despreocupada
Sinto minh’alma mais apaixonada
E te adoro mais sinceramente
Com os pés descalços pisas levemente
Sem perceber, bem sei, minha chegada
E a tua tez tão linda e delicada
Ao teu carmim é bem indiferente
Mas quando vês que estou te admirando
Qual borboleta no buquê voando
Teu rostinho envolves na pintura
Não julgues mal minha sinceridade
Mas quando voltas cheia de vaidade
Trazes oculta a tua formosura

Guilherme de Brito

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O que eu amo em você.

O que eu amo em você - é esse seu ar de meiguice,
esse tom de falar com tanta suavidade,
é esse olhar de carinho inundado de luz
e de felicidade...

O que eu amo em você - são esses olhos mansos,
pedacinhos de um céu todo cheio de luar,
e as suas mãos pequenas como duas conchas
dessas que andam bordando a areia à flor do mar. . .

O que eu amo em você - é essa fragilidade
dos gestos, na inquietude viva do seu ser...
- é essa doçura meiga... esse sorriso brando
que aflora sem querer em seus lábios brincando
sem que eu possa entender...

O que eu amo em você - é essa graça tristonha
que às vezes você põe no que diz ou que faz,
a expressão indecisa e vaga de quem sonha,
que me prendeu quase insensivelmente
e não me solta mais...

O que eu amo em você - é essa inquieta beleza
que um momento está viva... e outro instante nublada...
É esse orgulho sutil que a torna ainda mais linda,
é tudo isso afinal, e é muito mais ainda
porque não disse nada...

O que eu amo em você - é essa facilidade
de me contrariar, de fazer quase sempre
aquilo que não quero e que você deseja
sem me magoar sequer,
- é essa maneira sua de pedir, graciosa,
é esse poder estranho - essa atração estranha
de saber ser bonita... e saber ser mulher !

(Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro
"Bazar de Ritmos" 1a edição1935)
PS: Desafio encontrarem alguém que fale de amor de uma maneira tão singela e tocante!

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Autoridade dourada e fascista


por Jean Wyllys SALVADOR, BA, 10.03.2010



O sucesso do gaúcho Marcelo Dourado junto às audiências do BBB10 levanta um problema fundamental da vida humana: o desejo - às vezes inconsciente – da maioria por autoridades perversas. A autoridade perversa é, segundo a psicanálise, aquela inevitavelmente masculina, narcisista, pesada, auto-interessada arbitrária e, quase sempre, tirânica. E esse tipo de autoridade tem um apelo misterioso junto às massas. Freud já tinha dito que nós, seres humanos, temos uma espécie de fome de dominação e de ordem que se acentua nos momentos em que a vida nos parece desordenada e confusa. Partindo dessa proposição freudiana, é possível dizer que a presença dos “coloridos” e de seus simpatizantes no BBB10 e suas “licenciosidades” ou “libertinagens” perturbaram as audiências heterossexuais e tradicionais. É como se o fato de o programa abrigar um “sapatão”, uma drag queen e uma “bicha” andrógina pós-adolescente, bem como uma desinibida dançarina de boate, uma policial militar boquirrota e que se diz sexualmente desenfreada e um judeu editor de pornografia; é como se o fato de o programa abrigar essa fauna diversa ameaçasse os valores morais das audiências heterossexuais e zelosas da família tradicional; como se derrubasse suas certezas e mergulhasse suas vidas interiores num caos.
Por isso, Marcelo Dourado, ao se opor explicitamente à “licenciosidade” dos coloridos, emergiu como o líder de caráter fascista, que satisfaz a vontade geral de ordem e segurança. Quando as pessoas são assoladas por dúvidas, esse tipo de líder traz a segurança da “verdade”; do que é “verdadeiro” e “certo”, logo, confortável. Não por acaso Dourado cresceu na preferência dessas audiências depois da afirmação de que homens que transam apenas com mulheres não se infectam por HIV, o vírus da AIDS.
Nada mais confortável para uma maioria ameaçada por uma doença ainda incurável que saber que a mesma não lhe pode atingir, mas, apenas aqueles cujos modos de vida ela reprova, ou seja, os homossexuais. Essa afirmação de Dourado é equivocada e preconceituosa, é claro, mas, o líder fascista também se caracteriza por carisma capaz de levar as massas a engolir mentiras como se fossem verdades. Líderes assim são especialmente atraentes para jovens e mulheres, que são a maioria entre as audiências do BBB.
Dourado encarna a totalidade das aspirações da maioria heterossexual, mesmo que as audiências que lhe apóiam não estejam conscientes dessas aspirações (com certeza não estão, por isso, é que procuram justificar seu apoio ao gaúcho e sua identificação com a homofobia do mesmo no fato de ele “dizer as coisas na cara, mesmo as mais desagradáveis” ).
Dourado tem as características daquele “ridículo tirano” a que Caetano Veloso se refere na letra de Podres poderes, ou seja, é tirano, mas, é passível de provocar riso. Há, por exemplo, quem ache muita graça em vê-lo arrotar à mesa. Aliás, não foi sobre Caetano Veloso que Marcelo Dourado disse que gostaria de vomitar? Sintomático.. .
Esse tipo de líder permite alguns excessos, mas, sob certas condições prescritas. Por exemplo, Dourado tolera as excentricidades de Serginho desde que ele não fale de suas relações sexuais nem se oponha deliberadamente à ordem heterossexual que ele defende. Ora, é fácil tolerar um gay quando ele tem homofobia internalizada, é despolitizado, está reduzido ao estereótipo da “bicha louca” e, por isso mesmo, justifica a opressão que a maioria heterossexual exerce contra os homossexuais. Logo – e entendam isso de uma vez por todas - o gaúcho não deixa de ser homofóbico por causa dessa aproximação com Sérgio, muito pelo contrário.
Como eu sei que todo líder fascista é auto-interessado, eu não me deixei seduzir pelos elogios de Dourado à minha pessoa, afinal, ele sabe que eu gozo de alguma popularidade e prestígio, logo, não me criticaria abertamente; ao contrário, principalmente quando há um milhão e meio de reais em jogo. Por essa grana, ele sempre faz o jogo de “assoprar depois de morder”, ou seja, de posar de bacana depois de uma cena de fúria homofóbica, como naquela em que xingou Dicésar de “viado”, ressaltando, nesta palavra, toda sua carga negativa (sem contar que oposição “viado” versus “homem”, presente em sua frase para Dicésar, é típica da estupidez homofóbica e machista de quem não quer ver ou finge não saber que todo “viado” também é homem; alguns são até mais homens que o próprio Dourado, no sentido de que sabem conviver com os diferentes e respeitá-los verdadeiramente, sem interesses).
Sua ascensão é parte da histórica necessidade que a maioria tem de verdade, de ordem, de lei e de rei. Mas, ao mesmo tempo, essa necessidade pode resultar na destruição de méritos importantes dos seres humanos, como a democracia, as liberdades civis e o direito de livre expressão das sexualidades e de outros modos de vida que não aqueles celebrados em comerciais de margarina.
E por que venci a quinta edição mesmo sendo gay assumido? Ora, porque todas as minhas outras qualidades ficaram maiores que a minha orientação (era como se as pessoas desculpassem o fato de eu ser gay por ser, ao mesmo tempo, honesto, íntegro, bom e inteligente) ; porque eu era o único em um grupo majoritariamente heterossexual, logo, não representava uma ameaçava às audiências; e porque minha história de vida se parece com a de todo brasileiro que vence a pobreza através da educação; e porque eu apenas disse que era gay, não vivi minha sexualidade (e foi me comportando assim que consegui negociar minha permanência). Ficou difícil torcer contra mim. No BBB10, a maioria das audiências encontrou as condições ideais para voltar à velha homofobia.


Jean Wyllys é escritor e jornalista