terça-feira, 28 de dezembro de 2010

*Trate cada situação estressante como se você fosse um gato: se você não
puder comer ou brincar com a coisa, simplesmente se afaste!
Sabedoria Popular.*

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

27/12/2010

Hoje um grande amigo faria 38 anos, e seria um dia de festa!
Não me lembro da data de seu falecimento, nem do dia, nem do mês, tampouco do ano. Talvez seja até uma atitude inconsciente, mas nunca soube ao certo isso.
Ele era um ser humano cheio de vida, com um senso de humor ácido e afiado. Foi a pessoa mais importante do mundo na minha adolescência, sem ele teria sucumbido as tempestades que enfrentei nesse período difícil da minha existência. Atravessei a primeira desilusão amorosa e a separação dos meus pais amparada pela mão firme e dedicada dele.
O início da vida adulta nos separou. Quando chegou a hora de sermos gente grande, cada um seguiu seu caminho. Meus conselhos deixaram de ser válidos e ele estava por demais extasiado pela sua liberdade recém conquistada. Estávamos ávidos demais por viver a qualquer preço. Eu ansiando desesperadamente aquietar meu coração e ele, talvez pelo mesmo motivo, se aventurou destemidamente (como era de seu feitio) pela nova vida que se descortinava.
Cada um de nós dois trilhou caminhos que nos levaram para longe um do outro, buscando a mesma coisa.
Encontramos outras pessoas, fizemos novos melhores amigos, ficamos de mal.
Senti meu orgulho ferido quando deixei de ser referência. Estive preocupada demais com meus sonhos de amor, descuidei da nossa relação.
No desatino que se tornou a vida dele, assim como eu, encontrou somente miçangas, nada de valor verdadeiro. Mas ele buscou mais fundo nas entranhas da terra, e além dos vidros coloridos que por momentos fugazes aquietaram nossos corações, encontrou algo mais. Encontrou a resposta mais dura para a onipotência típica de todos nós, a falibilidade.
Apesar de termos traçado na infância uma trajetória comum, a vida nos afastou, mas a doença novamente nos uniria, algumas décadas depois.
Vi aquele homem enorme, mas de aspecto franzino,voltar a ser criança na necessidade de afeto e aceitação. Aquele que alçou voos distantes, como que a negar as próprias origens, resignar-se diante da impossibilidade de cuidar de si mesmo, manter-se de pé.
Eu o odiei quando soube da doença. Me indignei por que eu o avisei. Tive um pressentimento, corri para avisá-lo, mas não era mais um presságio para ele, era uma forma de constatação de uma possibilidade que eu não admitia, mas precisava acostumar-me com a idéia.
Orgulhoso, passou pela vida de cabeça erguida, odiava ser o alvo da atenção de pessoas que se apiedavam dele. Mesmo sem recursos, ríamos da possibilidade de realizarem eventos para arrecadar fundos, pois segundo ele, não era entidade filantrópica.
Estive com ele em alguns dos momentos difíceis pelos quais atravessou, mas não estive quando atravessava definitivamente para uma outra esfera.
Me recusei a guardar na minha retina a imagem dele entubado, inconsciente, apesar da minha cabeça me desafiar criando a cena, como forma de me penitenciar.
Não atravessei noite a fora em seu velório, como era de minha vontade. Não me despedi dele como deveria. Talvez por negação, talvez para ficar com a sensação de que logo nos veríamos.
Quase nunca penso nele, quase nunca o esqueço.
Sinto saudade de você Jefferson. Sinto saudade do meu Jeffinho, do irmão que meu coração escolheu.
Espero que você esteja bem, espero que ainda se lembre de mim. Espero que o maior medo de minha vida não tenha se concretizado ai onde está: perder você!
Sempre tive medo de ser desinteressante, mais nunca senti tanto medo de como tive de não ser mais interessante pra você.
Eu te amo Jeffinho.
Como nas palavras da canção de Roberto Carlos, que se aplicam como uma luva para nós dois:

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi, dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim

Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar
De tudo outra vez....

Você foi
A mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi
O caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu

Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder

Você foi
Toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer

Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim

Outra vez

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Eles cresceram...










“As paixões são como as ventanias que incham as velas do navio. Algumas vezes o afundam, mas sem elas não se pode navegar.”
Voltaire

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ao meu primeiro amor


Indivisíveis

O meu primeiro amor
e eu sentávamos numa pedra
que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas, isto é,
que a gente grande achava bobas.
Como qualquer troca de confidências
entre crianças de cinco anos. Crianças...
Parecia que entre um e outro
nem havia ainda separação de sexos,
a não ser o azul imenso dos olhos dela,
olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
nem no cachorro e no gato da casa,
que apenas tinham a mesma fidelidade sem compromisso
e a mesma animal - ou celestial - inocência.
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu.
Não importava as coisas bobas que disséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto,
que não havia ali apenas duas encantadoras criaturas,
mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se,
não sabia que eles levariam procurando
uma coisa assim por toda a sua vida...

Mario Quintana

Por Debajo De La Mesa

por debajo de la mesa acaricio tu rodilla
y bebo sorbo a sorbo tu mirada angelical
y respiro de tu boca esa flor de maravilla
las alondras del deseo cantan vuelan vienen van

y me muero por llevarte al rincónde mi guarida
en donde escondo un beso con matiz de una ilusion
se nos acabando el trago sin saber que es lo que hago
si contengo mis instintos o jamas te dejo ir

es que no sabes lo que tu me haces sentir
si tu pudieras un minuto estar en mi
tal vez te fundirias a esta hoguera de mi sangre
y vivirias aqui y yo abrazado a ti

es que no sabes lo que tu me haces sentir
que no hay momento que yo pueda estar sin ti
me absurbes el espacio y despacio me haces tuyo
muere el orgullo en mi es que no puedo estar sin ti

Luis Miguel
Fã confessa de bolero e de Luis Miguel, está é com certeza a música mais linda que ele já cantou. Fora a letra belíssima, tem a voz dele que é incomparável.
Existe algum ritmo que fale de amor mais que um bolerão? Não!!!

A hora do cansaço


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dispersão

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

...

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro-
Não me acho no que projecto.

...

(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)

...

Perdi a morte e a vida,
E louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a mas permaneço...

...

Paris, Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro (n. 19 Mai 1890 m. 26 Abr 1916)

in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa
de Eugénio de Andrade (3ª. Edição)
Campo das Letras

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 11 de dezembro de 2010

Vou escrever um livro!

Não um livro de memórias, não que eu não as tenha rsrsrs, mas um livro de amor, para as minhas filhas.

Um livro de poesias, poemas, frases de amor e de sabedoria, que nortearam minha vida e me fizeram a pessoa que sou, não a pessoa que imaginam que eu seja.

Constatei que nada mudará a imagem que todos tem de mim e tenho medo que elas também não escapem ao meu esteriótipo, por isso vou escrever um livro.

Quero que elas saibam quem fui e oque me emocionou, mais importante do que escrever um livro de memórias, afinal quero escrever uma coisa que as deixe felizes, não tristes.

Decidi isso contemplando minha filha Laura dormir. O que deixar de bom de mim, para uma pessoa que me enternece de forma tão maravilhosa? Como fazer lembrar de mim uma pessoa que tem um cheirinho tão gostoso?

Não seriam minhas peripécias de infância, tampouco as intempéries da minha adolescência, nem mesmo a luta da minha vida adulta por um pouco de romance.

Quero que elas se lembrem de mim pela sensibilidade dos textos que me comoveram e me sustentaram durante toda a minha existência confusa.

Acho que elas vão gostar, e será também uma maneira de me revisitar.

Será uma egotrip!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Neuras femininas







Eu acredito em Papai Noel.


Está chegando a época do ano que eu mais gosto. Amo o Natal!!!

Digam o que quiserem, aquele blá blá blá sobre datas comerciais e etc. O Natal é especial!

Não tenho motivos para sentir o que sinto afinal, depois que meus pais se separaram o Natal nunca mais foi igual. Aliás, herdei dele esse apego por essa época do ano ( ao menos restou algo de bom...).

Sinto o cheiro do Natal, verdade! Ao andar pela cidade especificamente nesse momento do ano, consigo distinguir quando o espírito do Natal já circula entre nós. Loucura? Pode ser, mas eu realmente sinto e acho fantástico.

Volto a ser criança e para elas nada é impossível, tudo vai dar certo.

Minha árvore já está montada a espera dos presentes que podem ou não vir, mas ela está lá. Mesmo que os presentes não venham, ele virá, por que eu acredito nele!

Ainda escreverei mais sobre o poder mágico que o Natal exerce sobre mim, tudo a seu tempo. Só senti necessidade de registrar que ele já está entre nós, mesmo faltando mais de 15 dias para o Natal. É hora de nos confraternizarmos!!!

Escutatória

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir.Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma".

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:

"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma".

Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos... Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.

(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, [...]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.).

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial.

Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".

Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto

Escutatoria - Rubem Alves - O amor que acende a lua.
Se você sente solidão quando a sós, está em má companhia.
Jean-Paul Sartre

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010